terça-feira, 7 de agosto de 2018

O sentido da vida

Por Cesar Manieri



Nas últimas semanas, tomei contato com uma nova realidade. Meu médico me pediu pra fazer, junto com os exames de rotina, alguns outros diferentes do usual. Ele me explicou que era importante homens da minha idade pesquisar mais sobre a saúde. Eu fiquei apreensivo e ele disse friamente que deveria mesmo ficar assim, mas não com medo, pois ele já havia salvado vidas por descobrir doenças graves e silenciosas em homens com mais de 50 anos. Isso me deixou realmente apreensivo. Bem, todos os dias recebemos notícias de que a expectativa de vida do brasileiro está aumentando. Isso deve ser verdade, pois minha mãe está com 83 e leva uma vida extremamente ativa e saudável, apenas com algumas dores típicas de senhoras idosas. Espero ter herdado essa força vital que ela tem.


Eu ainda me sinto um jovem senhor (afirmo que estou com a saúde em ordem). Pelo menos, me sinto assim por dentro e procuro deixar a ansiedade que esta fase da vida causa meio de lado. Mas os sinais do tempo sobre meu corpo estão por aqui. Eles estão a todo momento me alertando para a inexorável finitude da vida. Às vezes penso que estou enfartando, mas logo percebo, feliz, que são apenas gases. Mesmo assim, não esmoreço. Aos 54 anos de idade, já fiz uma pós-graduação e um curso de fotografia, aos 55 terminei um curso técnico e estou em vias de terminar uma nova graduação e, quem sabe, concluir um programa de mestrado. Acabei de ganhar uma bolsa de iniciação científica de uma universidade aqui de São Paulo para realizar uma pesquisa em Educação. Dou aulas e espero conseguir um cargo de professor em alguma faculdade ou escola.


Acontece que, para o mercado de trabalho, depois dos 50 anos somos considerados velhos e, depois dos 60, imprestáveis. A vida é assim. Quando somos jovens, imortais. Quando somos velhos, sucata. Se a expectativa de vida está aumentando, ou nos reinventamos, ou teremos um exército de idosos inundando o sistema de saúde estatal. Seremos aquele gado velho que fica ruminando sem parar a grama rala do pasto.


Percebi isso ontem quando fui levar meus filhos para fazer exames de sangue de rotina. Fomos a um laboratório confortável do convênio, onde nos atenderam muito bem e de forma rápida e eficiente. Sorte a minha por possuir um convênio médico. Graças a Deus. Depois de ganharmos um desjejum grátis, fomos até um posto de saúde estatal vacinar um do meninos. Lá, vi muitos idosos esperando sentados em cadeiras com um olhar desalentador, clamando por atendimento. Muitos estavam ali havia muito tempo, tremendo de fome. Não arredavam o pé daquele lugar fétido. Estavam resilientes demais para desistirem da empreitada de serem atendidos por um médico cubano. Fiquei neste lugar por uma hora, para descobrir que a tal vacina estava em falta. Graças a Deus.


Envelhecer em um país socialista como o nosso é um risco muito alto. Veja, no mundo perfeito dos socialistas, não existe velhos, nem doenças. Não existe crianças, nem bebês. Apenas jovens dinâmicos e descolados, fumando maconha em um mundo hedonista perfeitinho.


Se não temos empregos para todos, muito menos para os mais anosos. Empresários querem os jovens dinâmicos maconheiros super experientes, formados nas universidades federais pelos seus professores revolucionários. Na verdade querem esses caras que aceitam tudo e nada ao mesmo tempo.


E se o empresário tivesse um pensamento diferente? Ele iria ver que esses profissionais seniors com mais de 50 podem agregar conhecimento adquirido por vários anos. Bom, isso seria verdade se vivêssemos em um país capitalista. Mas não vivemos. O que homens com mais de 50 anos precisam é de uma oportunidade, coisa que o socialismo não oferece.


Empresários honestos, neste cenário, pensam apenas em sobreviver. Pensam em vencer o peso do Estado socialista em suas costas. Pensam em diminuir custos. Homens com mais de 50 são mais comprometidos, mas custam muito caro. Não aceitam calados determinadas tolices de seus pares. E, principalmente, ficam doentes.


Um pai de um aluno me perguntou por que eu resolvera mudar de carreira profissional aos 52 anos? "Loucura!" ele me disse. "É mais fácil esperar a aposentadoria", ele completou. É, pode ser. Afinal, nesta fase da vida, a relatividade do tempo faz todo o sentido. A correnteza do nosso rio da vida é mais veloz perto da cachoeira. Eu disse a ele que eu pensei em mudar depois que havia descoberto o sentido da vida. Disse que, quando somos jovens, esperamos o mundo nos dar tudo que queremos e precisamos. Disse que descobri que quando somos jovens, somos tolos. E só os tolos esperam algo deste mundo. O tempo me deu um pouco mais de sabedoria para entender que estamos aqui apenas para nos doar. Estamos aqui para dar ao mundo o que ele verdadeiramente precisa  e não o contrário. É como uma frase que meu irmão mais novo disse, antes de morrer tão jovem: "As pessoas precisam de amor. O mundo precisa de muito amor". Quer maior sentido para sua vida que esse? E você achando que era construir uma carreira bem sucedida em uma multinacional.

É engenheiro, músico, empresário, professor e
especialista em educação matemática.
Também é diretor da escola Integro.
Escreve em seu blog Na Metade do Caminho.

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