terça-feira, 14 de agosto de 2018

Invisibilidade

Por Denise Fernandes




Cinco horas da manhã. O médico me procurou e disse que o estado do meu pai era grave. Comecei a chorar no corredor do hospital. Cinco e meia da manhã, o choro me derrubando, senti uma vontade absurda de tomar café. Estava de pijama. Conversei com a enfermeira. Ela me disse que tudo bem eu ir até a padaria de pijama. Não era um pijama bonito, era um que parece ter voltado de uma guerra.

A padaria estava cheia. Entrei chorando, vestindo o meu pijama, e ninguém pareceu notar. Nenhum olhar, nenhuma palavra. Se eu soubesse, já teria saído de pijama antes.

Invisível, como meu pai agora, corroída de saudades. Na vida, ficou uma solidão maior sem a presença de meu pai, solidão que eu nem sei explicar.

Café consolo no frio da cidade que me abraça. O cheiro do meu pai, sua risada, e a estranha sensação que não o perdi. Quando a morte levou meu pai, levou a mim também. Ficamos os dois invisíveis.

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