domingo, 24 de julho de 2016

Pote de vidro

Por Oswaldo Antônio Begiato




Tudo o que eu queria,
nas minhas infindáveis horas de desamparo,
era a companhia de um pote de vidro gordo e redondo
cheio de gomas coloridas e açucaradas,
e outro de bolinhas de gude,
coloridas e de todos os tamanhos.


Quando moleque, eu tinha só esses dois sonhos;
eles faziam meu abandono parecer dádiva.


– Por serem doces e coloridos, acho.


Por que será que nunca sonhei com mãos meigas,
com colo me aquecendo
e com histórias me fazendo adormecer?


Por que erá que nunca sonhei com lápis apontado,
com uma borracha indestrutível
e com palavras me fazendo a dor me ser?


Por que será que até hoje
tenho só esses dois sonhos
– gomas e bolinhas de gude coloridas –
adormecidos nas prateleiras empoeiradas da paciência
em potes de dores que nunca consigo abrir?


– Por serem gordos e redondos, acho.

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