sexta-feira, 29 de julho de 2016

O desejo de cada um

Por Mayanna Velame




Em certo domingo de maio, acompanhei mamãe num café realizado no estacionamento de uma igreja. Havia doces, bolos, pães, salgados, ovos mexidos. Tudo do bom e do melhor. Qualquer comilança é sempre bem-vinda. Atiçar o paladar – e provar os mais variados quitutes – gera muita satisfação.


Aquelas tentações chamaram atenção da minha gula matutina, mas nada se comparou ao episódio que testemunhei com esses olhos. Diante de mim, sentado à mesa, estava um homem calvo, de pele clara e feição sisuda. Pela postura, parecia esperar alguém.


Tamborilava, impaciente, seus dedos curtos e grossos sobre a mesa (coberta por uma toalha vermelha). Devia estar com muita fome. E faminto. Como todo mundo ali.


Não demorou para que mãe e filho se aproximassem dele. A esposa ofereceu ao amado um sanduíche e um copo de suco. Disse-lhe algumas palavras e, depois, levantou-se para apanhar guardanapos no balcão.


Da delicadeza daquela mulher, segui meu olhar para o filho do casal. Agora pai e filho eram os protagonistas de uma cena dominical. O garotinho aparentava ter oito ou nove anos. Tinha, em suas mãos, um prato de plástico com uma fatia de bolo.


Rechonchudo, sorria feliz. Com uma garfada, iniciava seu ritual. E, paulatinamente, partia seu pedaço de bolo como se fosse um desejo se realizando. No entanto, toda a magia do momento foi para os ares. O pai, amuado, proferiu algumas palavras para o pequeno filho. “É assim que você quer emagrecer? Comendo esse bolo de chocolate?”.


O molequinho crispou sua fronte e, desconcertado, abocanhou timidamente um pedacinho daquele doce. Confesso que senti pena da criatura. Infelizmente, há momentos que tudo parece estar bem. Até que palavras desmotivadoras nocauteiam os mais preciosos anseios.


Não sei se o garotinho terminou de comer o bolo... Espero que sim! Nossos sonhos são adocicados. Devemos degustá-los e apreciá-los. Afinal, a dor de barriga será nossa. E, no mais, ou engordamos a vida com sonhos, ou terminaremos franzinos; reféns da magra perspectiva de acreditar em algo que nutra, sem dietas rigorosas, a alma e a vida.

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