Por Amilcar Neves*
Algacyr Osório, filho de Algamedes Osória e Cyro Osório, é um escritor
desconhecido do Sul do Estado. Natural de Meleiro, formou-se em Direito
por faculdade de Roraima, foi aprovado em Exame de Ordem pela Seccional
Acre, transferiu-se para Santa Catarina e atua na cidade onde nasceu e
em povoações adjacentes. Sua verdadeira paixão, no entanto, é a boa e
velha Literatura lida em livros de papel e escrita à mão em blocos de
folhas finas e pautadas, objetos cada vez mais raros hoje em dia. Para
evitar surpresas desagradáveis, encomendou à fábrica um lote de dez
fardos de 50 caixas com 40 blocos de carta cada uma – antes que resolvam
produzir apenas o que interessa à sociedade do século 21.
Não há
por que estranhar esse pedido monstruoso, pois só o é em aparência:
trata-se do fato de que, meticuloso e perfeccionista, Algacyr Osório não
admite rascunhos rasurados, borrados ou rabiscados: ele os vive
passando a limpo, de alto a baixo, caso uma incorreção qualquer polua o
seu texto. Então, com uma letra redonda e grande, vistosa e imponente,
Algacyr Osório gasta bastante papel para manter seu texto sempre
imaculado. Como se fosse uma tela de computador.
Apesar do
considerável volume da sua produção, Algacyr Osório continua
desconhecido, embora não inédito: fora as peças jurídicas, como
procurações, termos de confissão de dívida, requerimentos, contestações,
recursos e iniciais, são de sua lavra e autoria todos os discursos e
artigos, pronunciados uns, assinados os outros pelo prefeito municipal
de Meleiro. Os artigos, em especial (posto independerem da dicção
prefeitoral), têm obtido boa repercussão microrregional pelo fato de
aparecerem em hebdomadários até de Araranguá e Criciúma.
Façanhas
maiores de Algacyr Osório, em nome do alcaide, foram a extrapolação das
fronteiras catarinenses, quando uma peça tratando do cultivo de arroz
nas várzeas de Meleiro saiu numa publicação de Osório, RS, e a
penetração no centro do poder estadual, com um texto sobre as festas
típicas do município, o qual se viu abrigado em um diário da Capital.
– O diabo, primo – costuma ele reclamar para Manoel Osório –, é esta
gripe que me assola quase a cada mês, com suas dores e inconveniências
todas que a acompanham: onde conseguir a inspiração para bordar uma peça
literária à altura das tradições do nosso querido líder, o prefeito da
cidade?
*Crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 25.08.10
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