sábado, 25 de abril de 2015

Inocência

Por Meriam Lazaro




Domingo de manhã. Plantão do pai, que lia distraidamente o caderno de esportes enquanto o filho assistia televisão. Meia tela de família feliz.
No intervalo da programação, a propaganda despertou mais que a atenção do menino de cinco anos.
– Pai! Posso perguntar uma coisa?
– Claro, filho! Qualquer coisa.
O menino se ergueu no sofá da sala.
– Pai, o que é motel?
Engasgado, o pai pigarreou. Lembrou-se do acordo com a mulher (que as curiosidades sexuais do menino seriam respondidas por ele). À mãe cabia os dias de feira, de escola, de consulta ao pediatra...
– Filho, você está lembrado daquele filme que vimos ontem? Quando a família parou no posto de gasolina na estrada e havia um hotel?
O menino acenou com a cabeça, em sinal de concordância.
– Pois bem, filho... Motel é assim, que nem hotel. Um lugar onde as pessoas que viajam podem parar pra descansar.
Após um breve momento de reflexão, veio a réplica.
– Não, pai. Tu não tá sabendo. Motel é pra transar!...
Ao inocente pai, restou erguer o jornal e esconder o rosto.

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