sábado, 11 de abril de 2015

De malas prontas

Por Meriam Lazaro




– Na viagem para outro mundo, ainda na Terra ou não, o que você escolheria levar para lá?
– Como assim? Objetos? Eu levaria um livro, aquela autobiografia do Jung: “Memórias, sonhos e reflexões”. Uma canção, embora quase impossível escolher, levaria a nona sinfonia de Beethoven.
– E o que mais?
– Creio que mais nada. E você? Se fosse para outro planeta e lhe concedessem levar uma memória apenas da Terra, o que escolheria?
Já que estavam no terreno das possibilidades, o amigo pensou bem antes de falar.
– De tudo que já presenciei, considerando uma beleza exterior, escolheria levar na retina a imagem do pôr-do-sol de sábado passado.
Ambos ficaram em silêncio, lembrando do grande espetáculo visto acima do rio que margeava suas cidades, ainda que morassem em pontos distintos do mapa. De repente, o último que falara disse:
– Também levaria a lembrança das coisas boas que pratiquei.
– “Caraca”, cara! Devo ter praticado alguma coisa boa, mas o quê? Não me lembro de nada agora?
– Então, pense em três delas apenas. Coisas simples. As coisas boas não precisam ser grandiosas. Aquele abraço que você deu em alguém, que já estava no limite do cansaço, e o fez reabastecer-se de energia para mais duas horas de palestra. Aquele dia que você ficou cuidando da sobrinha, enquanto sua irmã ia fazer a prova do concurso, mesmo deixando de ir ao estádio para assistir a partida final do campeonato. Algo assim.
– Ah, tá. Coisas assim, eu fiz bastante, mas é incrível como só pensamos em gestos grandiosos como válidos. E você? Se estivesse de malas prontas para embarcar para outro mundo, o que levaria na bagagem?

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