Por Fabio Ramos
Norma acabara de pegar Juquinha, seu filho de oito anos, no colégio. A dupla caminhava por uma rua silenciosa. Em frente a um sobrado imponente, de muros altos, ela toca a campainha. A porta range ao ser aberta. Era o cunhado Deoclécio.
– A Consuelo está? – pergunta Norma.
– Ela foi no mercado, mas já está voltando – informa Deoclécio. – Vocês querem entrar?
– Eu não posso. Tô com horário marcado no cabeleireiro! Estive pensando... Será que você poderia ficar com o Juquinha, enquanto eu vou no salão?
– Sem problemas, Norma! Vai ser um prazer ficar com ele.
A mãe beija o filho na testa e distancia-se, apressada. Ao entrarem, os dois tomam seus lugares no confortável sofá da sala de estar.
– Me diz como foi a aula hoje.
– O mesmo de ontem – contou o sobrinho. – Antes eu não gostava de ir pra escola. Só que eu conheci a Marieta e tudo mudou.
– Sei – respondeu, laconicamente, o tio.
Juquinha tira um caderno de dentro da mochila. Voltando-se para Deoclécio, pergunta:
– Tio Déo, você me ajuda a fazer a lição de casa?
– É claro... se eu souber, eu digo.
– Hoje a professora tava falando de D. Pedro. Você sabe o que ele fez em 7 de setembro de 1822?
– Deu um grito, abaixou as calças e cagou – sentenciou Deoclécio.
– E a Guerra Fria, quando começou?
– No dia em que eu me casei com a Consuelo.
Não satisfeito, o garoto continuou a sabatina.
– O que é Liberalismo?
– É a coisa mais divertida que já inventaram!
– Como assim?!
– Imagina todo mundo liberando geral, bebendo a noite inteira e se divertindo sem parar...
Por um instante, Juquinha refletiu sobre o que Deoclécio lhe dissera. O silêncio foi quebrado com mais um questionamento:
– Então você é um liberal, tio?
– Entre quatro paredes, sim! Mas não vai contar pra sua tia, moleque... Isso é segredo de Estado!
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