terça-feira, 13 de setembro de 2011

GIANECCHINI

Por Denise Fernandes


No dia seguinte da notícia do câncer do ator Reinaldo Gianecchini, encontrei S. e ela estava triste com o fato. Disse que também tinha me envolvido muito já que devido aos sonhos eróticos que tenho com o ator, me sinto “íntima” dele, realmente próxima. A vida dele me importa. Dele e do Rodrigo Santoro, para ser mais precisa nesses assuntos.

        Sei lá se por falta de assunto mental, comecei a imaginar que começaríamos um relacionamento, eu, tipo enfermeira do Gianecchini. Ia fazer tanta comida pra ele que ele ia engordar e peidar o dia inteiro. Tudo ia ficar mais agradável em nossas vidas. Dormiríamos exaustos de tanto fazer amor e acordaríamos aos poucos, espreguiçando, encontrando ainda na cama tempo para mais um pouco. Seríamos ainda mais felizes do que já somos, inteiramente tomados por nosso louco e calmo amor. Acho que um amor pode ser louco e calmo ao mesmo tempo, nunca vivi isso, por isso mesmo estou criando essa fantasia.

        Já vem as más línguas dizendo que não adianta eu fantasiar que ele é gay. Fantasia é fantasia e ele pode ser gay e de repente ficar a fim de experimentar algo diferente, já expliquei que o amor é louco. E tem a opinião da minha mãe que acha que ele não é gay. A opinião da minha mãe sempre conta e acho que a opinião da mãe de cada um conta, mesmo que seja inconscientemente.

        Além de lindo, imagino o Gianecchini super boa pessoa. Muito diferente de várias pessoas que conheço e com quem infelizmente também sonho. Meus filhos também reclamam, às vezes, de seus sonhos, mas há quem não se recorde dos seus sonhos, já que todos sonhamos. Sou sempre perturbada pelos meus sonhos. Eles me levaram à psicologia e a sentimentos mais profundos pelos atores Gianecchini e Santoro. Freud explica.

        Os exames que fiz para detecção do câncer em mim mesma me revelaram: a vida que mais importa para mim no momento tem caráter secundário. Chorei muito ante a ideia de ficar careca. A morte já me conformei, dela ninguém escapa, mas a ideia de ficar careca foi assustadora, e eu não sabia que era capaz de chorar de soluçar pensando que podia perder meus cabelos que nem são tão bonitos assim. O dermatologista explicou que são células mortas e que eu não deveria me importar tanto com células mortas. Mas ligo. Descobri que ligo, melhor assumir. Ligo também para as pequenas coisas que faço: cafés, comidinhas, liberdades. Gosto de passear pela rua perdendo meu tempo com as vitrines, pessoas, plantas, meus próprios passos, pensamentos. Pequenas aventuras. Se eu tivesse câncer, teria que preservar toda essa parte das pequenas aventuras de alguma forma, mesmo que meu corpo me traísse. Foi por essa razão das pequenas aventuras que levei pra Heliana que conhece bem o câncer e o hospital da Beneficiência Portuguesa uma coxinha engordurada e recém saída da frigideira. Ela aprovou deliciada porque entendeu que no pequeno presente, nesse bem pequeno de dois reais e cinquenta centavos tem toda a sorte do mundo. Tem o momento que vale, que fica. E das nossas risadas no hospital, da felicidade da amizade nos momentos de dor nasce um prazer que fica. Nessa corrente de amor que sinto que você também está, Gianecchini, permaneça. Com o pé no coração que é semente, honra e bondade, muito além de qualquer lei, aparência ou escolha. E permanecendo continue a criar em mim esse tesão de descobrir no seu sorriso, um sorriso meu também. Como sempre escreve a Heliana: amor, saúde, alegria! Para você, para nós, para todos nós !

Um comentário :

  1. Tudo no mesmo caldeirão: Gianecchini, câncer e fantasia. Nada mais natural do que o desejo humano. Adorei.

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