quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Mula Sonora

Por Alex Constantino

Híbrido é a qualidade de tudo que resulta de elementos de natureza distinta, mas pertencentes ao mesmo gênero e, geralmente, se refere ao cruzamento de duas espécies animais ou vegetais com finalidade econômica ou apenas por entretenimento.

A mula, por exemplo, é um animal híbrido, proveniente do cruzamento de um jumento (equus africanus asinus) com uma égua (equus caballus). Com isso herdou qualidades de ambas as raças se tornando um animal bem adaptado ao transporte de cargas em terrenos acidentados.

E por falar em meios de transporte, atualmente há um esforço para a produção em larga escala de automóveis híbridos que combinam um motor a combustão e um motor elétrico, com vistas a reduzir o consumo e a emissão de gases poluentes.

O hibridismo é uma prova da inquietação e gênio inventivo da humanidade que sempre buscou melhorar sua própria condição, seja para utilidade ou para o mero deleite. Bem, algumas vezes também serve de prova para a falta dele.

É o caso da existência de um espécime bem inusitado, porque desafia todo o conhecimento convencional quando se fala em hibridismo. Por falta de termo melhor, chamemos de equus vehiculum sonorum, ou também como é conhecida popularmente: Mula Sonora.

Ela resulta do cruzamento de um tipo peculiar de asno, criado longe do campo e perto da tv, com um veículo equipado com uma quantidade obscena de aparelhagem de som.

No caso da mula tradicional consta que devido ao fato de cavalos possuírem 64 cromossomos, enquanto o jumento possui 62, resultando em 63 cromossomos, elas são, quase sempre, estéreis.

Bem, a Mula Sonora sempre é stereo, porque é o resultado do baixo QI do asno com a pancada de decibéis do sistema de som do carro.

Se fosse apenas isso tudo bem, afinal nada de mais com um pouco de ostentação ou busca sincera por identidade. O problema é que alguns exemplares dessa terrível besta resolvem relinchar orgulhosamente a muitos decibéis de altura, num arremedo ritmado que alguns observadores mais apenados até tentam reconhecer piedosamente como uma forma primitiva de melodia.

Na verdade é um amontoado de barulho, geralmente uma fracassada tentativa do pobre animal de se envolver num ritual de acasalamento. Na maioria das vezes serve mais como uma sinal de aviso para qualquer criatura se dispersar em desabalada carreira, ruborizada pela vergonha alheia.

Ela tem possibilidade de atingir grandes velocidades, mas prefere andar a poucos quilometros por hora relinchando horrendamente, importunando por onde passa.

Essa criatura inoportuna, ironicamente, subverte a ordem das coisas porque enquanto sua parente foi muito utilizada e ainda continua a ser como meio útil de transporte de carga, é a Mula Sonora quem deposita uma carga imensa de incômodo no ombro de todo desafortunado que tem que conviver no mesmo habitat que ela.

Uma frente de resistência está sendo planejada antes que a besta leve à extinção toda paciência alheia e um membro do movimento, que prefere permanecer anônimo, indica que existe um plano para exterminá-la atingindo bem naquilo que é seu ponto fraco. Planejam envenená-la com doses maciças de conhecimento, educação e respeito.

Boa sorte à empreitada! Nossos ouvidos agradecem.

Um comentário :

  1. "Bem, a Mula Sonora sempre é stereo, porque é o resultado do baixo QI do asno com a pancada de decibéis do sistema de som do carro."
    Ri demais! XD Verdade!
    Mas não são os asnos no carro que fazem relincham (geralmente funks obscenos), mas tem desses animais em todo o lugar.
    Por exemplo, uma professora gritando a plenos pulmões com as caixas de som no máximo p/ direcionar as crianças na dança da quadrilha numa escola ao lado de residências.
    Ou uma greve, com direito a batuque e megafone, literalmente na frente das salas de aula de uma faculdade.
    Essas pessoas precisam ser envenenadas com doses cavalares de respeito.

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