Por Alex Constantino
Um encontro casual, permeado por uma conversa trivial, dá ensejo a um convite inusitado que culmina numa apaixonada e apaixonante história. Essa premissa improvável se desenvolve sem a interferência de artifícios dramáticos tentando forçar uma verossimilhança artificial, e portanto, tão próxima da realidade das relações humanas.
Talvez por isso o casal de protagonistas é registrado quase em tom documental e quase ausência de trilha sonora nos permite acompanhar longas tomadas recheadas de diálogos triviais, mas nem por isso despidos de profundidade, relevância e sensibilidade. Aliás, diálogos que soam naturais e que conduzem a história enquanto nos vão revelando as personalidades díspares dos protagonistas ao mesmo que se revelam um ao outro, tornando-nos cúmplices do afeto crescente, tanto entre o casal quanto entre espectador e personagens.
Os coadjuvantes, também inusitados, pontuam a história como aqueles elementos incomuns que contribuem para tornar um acontecimento uma memória especial. Ao lado disso, trazem reflexões que exteriorizam o que vai dentro dos protagonistas enquanto dialogam com o espectador, como o poeta de rua com o poema carpe diem que desnuda o tom de celebração do momento que escorre da película.
Os cenários da bela Viena são contaminados pelo estado de espírito do casal e ganham vida pela história, talvez não por outro motivo o diretor os exibe novamente no final do filme, desta vez insossos sem a presença dos protagonistas. É como se estivesse a reforçar a batida (mas não menos verdadeira) afirmação de que basta a companhia certa para tornar qualquer momento ou local especial.
O final confirma a ausência de convencionalismos do gênero e arrebata o espectador que se sente um pouco constrangido, lembrando-se quando sorriu desdenhosamente junto com Celine no início da história, quando Jesse confidenciou à ela sua ideia de um reality show que acompanharia o cotidiano de pessoas comuns. Ela certamente concordaria conosco de que preencher o espaço entre duas pessoas com trivialidades pode ser mais mágico e cativante do que qualquer acrobacia visual ou narrativa.
Título original: (Before Sunrise)
Lançamento: 1995 (EUA)
Direção: Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater e Kim Krizan
Atores: Ethan Hawke, Julie Delpy, Andrea Eckert, Hanno Pöschl, Karl Bruckschwaiger, Tex Rubinowitz, Erni Mangold, Dominik Castell, Haymon Maria Buttinger, Harold Waiglein, Bilge Jeschim, Kurti.
Duração: 105 min
Assisti esse filme há um bom tempo e não me recordo muito bem dele, apenas de alguns diálogos que, como foi falado, parecem bem banais, mas cheios de significados para os personagens.
ResponderExcluirMas a resenha me deu vontade de assistir de novo XD
É um romance diferente que foge da cafonice tão comum nos filmes do gênero.