domingo, 25 de fevereiro de 2018

Os olhos vivos dela

Por Oswaldo Antônio Begiato




Ela amava aquele homem
Intensamente.


Passou a vida inteira
Sem nada dizer a ele
Nem a ninguém.


A vida inteira
Lavou sua roupa,
Alvejou,
Engomou,
Passou...
E cuidou do vinco
e do vínculo.


A vida inteira
Preparou sua comida,
Escolheu,
Temperou,
Cozinhou...
E conservou a louça
e os laços.


A vida inteira
Cortou suas unhas,
Limpou,
Lixou,
Beijou...
E as recolheu nas entranhas,
às vezes estranhas.


A vida inteira
Amou aquele homem
Sem nada dizer a ele
Nem a ninguém.


Contudo,
manteve,
a vida inteira,
os olhos vivos
onde se podia ler
a mais bela
declaração de amor.


E quando ele morreu,
de velho,
Ela morreu em seguida,
de saudades.


Ainda tinha os olhos vivos.

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