terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Cultura é melhor que dinheiro

Por Denise Fernandes




Muitas vezes, sinto uma preguiça ancestral. Vencendo tal disposição, saí de casa com uma pequena pilha de livros. Quis doar o material aos operários de uma obra, aqui perto de casa. Um dos trabalhadores me recebeu com um maravilhoso sorriso.

"Foi Deus quem mandou você aqui. Eu tava acabando de falar, cultura é melhor que dinheiro".

Essa ideia de distribuir livro aos funcionários da construção civil vem de um trabalho que realizei há vinte anos. Mas, naquela época, o intuito era constituir uma biblioteca. Agora, com a doação, cabe a eles definir o destino daquelas obras. É o mistério do livro, nas mãos de quem labuta.

Duas décadas atrás, a maioria dos operários só tinha um livro em casa: a Bíblia. Para alguns, tavez, baste uma única obra. Essa realidade não deve ter mudado (e nem o analfabetismo diminuiu). Lembro de um texto do Borges, onde o mundo era visto como uma imensa biblioteca.

Estou doando meus livros. São livros lidos. Livros que trazem mais ácaros na estante da memória  e menos saúde, menos amor.

Claro que já sonhei em possuir todas as obras que li. Obras que retirei na biblioteca da USP, obras que li emprestadas. Na maioria das vezes, quando vemos um intelectual na televisão, ele aparece cercado por uma estante de livros. Com essa estante lotada, me gabaria do que sei. Mas é tão maior o que não sei...

Estudar só me faz descobrir o quanto sou burra.

Os livros são como pássaros. Aprisionados na estante, estáticos, sem o amor de quem os veja e os revele. Até por amor ao papel, a letra (enigma na mão do analfabeto) brilha.

Outro dia, também doei algumas obras à biblioteca pública. Tanto a funcionária que me recebeu, quanto a pessoa responsável pelo espaço, deram "pulinhos" de alegria.

Doe seus livros, doe-se. A vida passa tão depressa, e as estantes não são tão importantes assim.

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