domingo, 16 de abril de 2017

Finidade

Por Oswaldo Antônio Begiato




Eu queria te fazer carícias no rosto
Com minhas mãos encobertas
Pelo pó, nela pousado
Durante meu caminhar
De homem solitário e inconformado,
Esperando por um único beijo,
Negado desde o meu nascer:
 O beijo da mulher amada.


Sei que a vida inteira me quiseste
Como teu infeliz e só teu eunuco.
Mas devo dizer com todas as letras
Que foram legadas às minhas mãos
Empoeiradas:
 Sou livre e potente.


Nasci para voar dentro dos sonhos
E acreditar que um dia terei esse beijo
Da mulher que meu coração escolher,
Mesmo sabendo-o impossível
Porque nasci sem lábios,
E vou morrer sem lábios.


Um beijo,
Nem que fosse um beijo ligeiro
Feito a prece incônscia do louva-a-deus.
Um beijo,
Nem que fosse um beijo frio
Feito o gotejar acetinado do orvalho.


Mas partiste levando contigo
O desencanto que eu não inventei,
E o sonho que ousei sonhar:
 Um beijo da mulher amada.


Comigo deixaste apenas
Uma espantosa certeza:
Maior que a tristeza de saber
Que nunca me amaste
Foi a alegria de descobrir
Que nunca te amei.

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