sexta-feira, 14 de abril de 2017

De cabeça para baixo

Por Mayanna Velame




Acho que o mundo deve estar de cabeça para baixo. A verdade é que ele sempre esteve assim. A existência já é baseada em nosso próprio descaso. E não há nada mais humano que a nossa iniquidade. Diz a Bíblia que Caim matou Abel, e o primeiro homicídio foi disseminado na Terra.


A partir de então, o Livro Sagrado narra variadas atrocidades, abominações e corrupções. Desiludido, Deus parece desistir da humanidade: vem o dilúvio a submergir homens e mulheres, com todas suas concupiscências e paixões. Sim, foi desse jeito. Porém, depois disso, o que aconteceu?


Com ou sem dilúvio, o mundo seguiu e prosseguiu. Os homens continuaram e continuam rudes, arrogantes e perspicazes. Armas mortíferas são projetadas, a própria humanidade se aniquila. Líderes mundiais comandam a carnificina terrena. O mundo está lá fora, com suas belezas, cores e formas; mas também com seus bombardeios, fomes, pestes e mazelas.


O cenário apocalíptico está desenhado há tempos. Nossa essência é a crueldade. Nos EUA, metade dos impostos são destinados à indústria bélica. Já no Brasil, nossos impostos custeiam a morte de doentes nos corredores dos hospitais. Na "terra do tio Sam", cidadãos pagam impostos para matar. E no Brasil, para morrer. Das desigualdades presentes, assistimos a tudo pelos smartphones (com o símbolo da maçã estampado). Outros são penalizados como vítimas cruas e diretas.


Mísseis visitam os céus sírios, queimando os sonhos mais inocentes de suas crianças. Nuvens de fumaça encobrem o amor de homens e mulheres; transformando seus desejos mais ardentes em cinzas. Guerras mundiais, Hiroshima, terrorismo, intolerância, racismo, homofobia, extremismo religioso. Qual será nosso destino? Estaremos entregues a zumbis ou extraterrestres?


Não, estamos entregues a nós mesmos e à misericórdia divina (se Ele assim quiser). Da esperança que ainda reside, aproveito para esquadrinhar a vida que circula. Sobre o muro, um gato vira-lata observa, metodicamente, o movimento dos transeuntes. No horizonte, vejo riscos cintilantes. Não são mísseis, são estrelas cadentes: prontas para atender o pedido de alguém.

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