domingo, 31 de janeiro de 2016

Horas

Por Oswaldo Antônio Begiato




Vieste buscar as horas
Que, quando ainda jovem,
Deixaste abandonadas
No pêndulo do relógio


Elas trincaram a pele
Do reboco que escondia
A fraqueza das paredes
E a insolência do passado
E descoloriram a retina
Das cortinas que protegiam
A sala das vidraças, do sol
E dos maus olhados.


Leva-as consigo.
Guarda-as.


Guarda-as como quem guarda
O pão caseiro,
No forno do fogão
Cobertas por um pano de prato
Para que testemunhem a saciação
De quem as quer consumidas.


Guarda-as como quem guarda
A aliança de noivado,
Na caixinha de música,
Para que denunciem a subtração
De quem as quer furtadas.


Guarda-as.


Porque elas te encherão a vida de tempo
E te farão experimentar o fim.

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