sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Crônica diária

Por Mayanna Velame




Em uma das mãos, seguro uma caneta. Numa folha em branco, o vazio se manifesta. Nenhuma palavra nasce, nenhuma palavra grita. Agito meus dedos, folheio dicionários, consulto jornais. Ligo e desligo a TV.


A vida e seus acontecimentos não se resumem a noticiários de trinta minutos; com apresentadores sisudos e nauseados. Nosso viver é muito mais valioso.


Há tantos assuntos que deveriam ser abordados em uma crônica. Podemos escrever sobre o terrorismo amedrontando a Europa e o resto do mundo. Ou, então, expor nossa indignação a respeito da corrupção entranhada no país.


Esta crônica pode relatar a tragédia de Mariana; descrevendo os sonhos enlameados pela incompetência das mineradoras e autoridades brasileiras. Mais do que isso: esta singela crônica pode exprimir uma opinião acerca da crise econômica, do desemprego, da alta do dólar, do preço da gasolina, do caos da saúde pública, da violência de cada dia, dos Jogos Olímpicos na Cidade Maravilhosa. Sem esquecermos do Impeachment, do cinismo de Eduardo Cunha, da Operação Lava Jato, da Seleção Brasileira, do Corinthians, do rebaixamento do Vasco da Gama, da bomba H, das tempestades de verão, do carnaval. Tantos fatos batem à nossa porta. Mas, realmente, o que nos desperta o interesse?


A imprensa filtra os assuntos e nós absorvemos como esponjas. Notícia ruim vende, gera polêmica, garante audiência. Escrever sobre o que a mídia publica é cansativo, indigesto e redundante. Existem crises que cada um de nós carrega dentro de si. Crises que não estão nas manchetes dos jornais. Nossas crises estão aqui, circulando em cada artéria do corpo.


Cada dia que surge é uma crônica a ser escrita. Escrevemos porque a vida é rodeada de palavras (alegres ou tristes). Palavras de amor e ódio. Algumas delas são tão fortes que permanecem presas em nós. Para sempre. Escrevemos com os olhos, escrevemos com o pensar. Escreveríamos também com o coração? Somos autores da nossa efêmera existência.

Nenhum comentário :

Postar um comentário