Por Mayanna Velame
Em
uma das mãos, seguro uma caneta. Numa folha em branco, o vazio se manifesta.
Nenhuma palavra nasce, nenhuma palavra grita. Agito meus dedos, folheio
dicionários, consulto jornais. Ligo e desligo a TV.
A
vida e seus acontecimentos não se resumem a noticiários de trinta minutos; com
apresentadores sisudos e nauseados. Nosso viver é muito mais valioso.
Há
tantos assuntos que deveriam ser abordados em uma crônica. Podemos escrever
sobre o terrorismo amedrontando a Europa e o resto do mundo. Ou, então, expor nossa indignação a respeito
da corrupção entranhada no país.
Esta
crônica pode relatar a tragédia de Mariana; descrevendo os sonhos enlameados pela
incompetência das mineradoras e autoridades brasileiras. Mais do que isso: esta
singela crônica pode exprimir uma opinião acerca da crise econômica, do
desemprego, da alta do dólar, do preço da gasolina, do caos da saúde pública,
da violência de cada dia, dos Jogos Olímpicos na Cidade Maravilhosa. Sem
esquecermos do Impeachment, do cinismo de Eduardo Cunha, da Operação Lava Jato,
da Seleção Brasileira, do Corinthians, do rebaixamento do Vasco da Gama, da bomba
H, das tempestades de verão, do carnaval. Tantos fatos batem à nossa porta. Mas,
realmente, o que nos desperta o interesse?
A
imprensa filtra os assuntos e nós absorvemos como esponjas. Notícia ruim vende,
gera polêmica, garante audiência. Escrever sobre o que a mídia publica é
cansativo, indigesto e redundante. Existem crises que cada um de nós carrega
dentro de si. Crises que não estão nas manchetes dos jornais. Nossas crises
estão aqui, circulando em cada artéria do corpo.
Cada
dia que surge é uma crônica a ser escrita. Escrevemos porque a vida é rodeada
de palavras (alegres ou tristes). Palavras de amor e ódio. Algumas delas são
tão fortes que permanecem presas em nós. Para sempre. Escrevemos com os olhos,
escrevemos com o pensar. Escreveríamos também com o coração? Somos autores da
nossa efêmera existência.
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