Por Denise Fernandes
Então, largamos
os guarda-chuvas no teatro, bem perto da porta, em um local onde não nos esqueceríamos
deles. Está chegando dezembro. Estou dentro da minha média: perco uns dez
guarda-chuvas por ano. Tentei modelos e cores diferentes; lutando contra a
inevitável perda. O vento rouba meus sentimentos de posse.
No começo
da vida, quando era muito jovem, eu voltava para buscar. Noventa e nove por
cento das vezes a busca acabava mal. Nem bem eu dava quinze passos longe do
cinema, ou da loja, e o guarda-chuva já havia desaparecido. Outro dia tentei de
novo, ao abandonar um guarda-chuva enorme e prateado num restaurante. Mesmo
assim, ninguém o viu por lá.
Objeto
oculto do desejo, raptado tantas vezes de mim (sem culpa alguma de quem o leva).
Será minha bengala e meu escudo pela vida afora. Quando criança, eu sabia que caminharia
na chuva. Achava admirável quem enfrentava o temporal. Agora sei que o aguaceiro
é meu pensamento. As palavras são como a chuva: água que corre, lavando as
lembranças dos guarda-chuvas que esqueço, e das pessoas que jamais esqueço.
Lindo texto, mãe. Gostei também da foto.E sigo também perdendo meus guarda-chuvas Apenas umsobreviveu mais tempo porque era colorido demais e as pessoas esntravam e buscavam o dono...no caso, a dona...
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