Por Amilcar Neves*
Em verdade, quem
mandou notícias do Roberto foram os gêmeos de Videira. Ficcionista tem desses
vícios de profissão: sempre distorce, muda, altera, "melhora" algo na
realidade para tentar dar algum sentido e levar algum interesse ao que escreve.
Assim, anuncia em letras grandes que Roberto mandou notícias para, em seguida,
dizer que os arautos foram Claudinei e Claudionor.
Os dois irmãos só não são siameses: idênticos em tudo, desde o físico até o
intelectual, desde o mental até o espiritual, estão sempre juntos. Quando
conversam, cada qual invariavelmente diz a metade da frase, deixando ao outro
que a complete. E o complemento de um é sempre o que o outro estava mesmo
querendo dizer. Usam o artifício, que já passou a integrar suas personalidades,
mesmo quando conversam entre si, o que não param de fazer. Para eles, é curioso
ver as pessoas falarem frases inteiras, completas e acabadas. Parece-lhes,
este, um expediente estranho de quem talvez se sinta muito solitário, sem
alguém que lhe complete o pensamento e a vida.
Às vezes, de
brincadeira, eles se apresentam a novos vizinhos como Claudionei e Claudinor.
Fazem isso só para se divertirem um pouco, confundindo as pessoas e
dificultando-lhes a identificação de qual deles não é o outro.
Pois os gêmeos
da bela cidade de ladeiras íngremes mandam dizer que Roberto é um frequentador
assíduo da biblioteca municipal de Videira, no Meio-Oeste catarinense, da qual
faz de um livro um dos mais retirados do acervo. Aliás, esclarece Claudinei,
Roberto é a única pessoa que pede o livro..., e completa Claudionor: Rádio
Digital, que nunca ninguém mais quis ler.
Informam mais, os
dois: Roberto está copiando a mão o livro todo, por isso que precisa retirá-lo
e devolvê-lo, por decurso de prazo, tantas vezes. Por que ele não diz que
perdeu o livro, ressarce a biblioteca com outra obra mais procurada pelos
leitores e fica de posse definitiva desse seu livro de cabeceira?, insinuam os
gêmeos. O fato é que Roberto não perde palestra na cidade, concedendo ao orador
uma tolerância de cinco minutos: se ele não for enfático e claro nas palavras,
dá-lhe as costas com desdém e vai embora. Do contrário, pega dele um autógrafo
ao final da fala, entusiasmado com o desempenho.
Nuves, da
biblioteca, é quem decifra o enigma: quando for grande, Roberto quer muito ser
locutor de rádio.
*Conto publicado no jornal "Diário
Catarinense" de 22.12.10
Nenhum comentário :
Postar um comentário