Por Denise Fernandes
Estou pandêmica. Entre a cama, o sofá, o computador. Da televisão, olho a programação. Em busca de distração. Ouço o jornal televisivo pela metade, assustada com o número de mortes e a péssima qualidade dos hospitais.
Estou pandêmica. Desenhada entre a Morte iminente, que parece mais ameaçadora do que antes. E um desejo de dar risadas, de ser feliz a qualquer custo.
Estou pandêmica. Agarrada à vida. Toda hora lavando a mão. Faz tempo que estou em casa, em isolamento social. Mas acho que estou preparada para mudanças. É mais fácil, nesse momento, ficar por aqui; sem ter que decidir para onde ir.
Sempre achei que a vida era uma mistura de destino e livre-arbítrio. O difícil é saber onde está o destino – e onde podemos usar nosso livre-arbítrio. A pandemia se impõe como um destino, clareando nossas escolhas. Diante da ameaça da morte, o purgatório se instala em minha mente. Minhas culpas, meus apegos.
Estou pandêmica. Feliz de estar viva, agarrada aos detalhes. Outro café. Um pássaro que canta, essa tarde.
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