terça-feira, 12 de maio de 2020

A moda permanente

Por Maurício Perez



Já vimos de tudo, quando o assunto é moda: cabelo longo, curto, pintado, calça corsário, gravata de crochê etc. E sempre será assim. Com um pouco de tempo e dinheiro, as pessoas arriscam, compram e usam novidades. Enjoou? Cansou? Não gostou? Troca. Moda é sinônimo de efêmero. Por isso, surpreende ver a tatuagem virar moda. A única moda permanente.


Em poucos anos, a tatuagem deixou de ser a marca de marinheiros, presos e gangues de motocicleta, para estar presente em 36% de americanos entre 18 e 25 anos. Afastou-se do submundo, foi acolhida pelas massas, e tornou-se também uma indústria.


Há diversos tipos e tamanhos de tatuagem - e inúmeras razões para marcar o corpo: expressão da identidade, personalização, arte, "porque todo mundo faz" etc. E alguns motivos para pensar duas vezes antes de fazer: dificuldade para conseguir certos empregos (que, futuramente, desencadeará uma nova "luta contra o preconceito"), a pele envelhece e os desenhos se alteram...


No entanto, há algo que deveria ser apresentado com mais atenção. Nossa sociedade moderna orgulha-se de valorizar o que há no coração; e não dá importância a formas, ritos e fatores externos. Se é assim, por que marcar na pele o que levamos no coração? Das duas, uma: ou o protocolo, a materialização de realidades espirituais são importantes - e creio que sim - ou, então, a tatuagem é um grande erro.


A sociedade moderna tem pavor de compromisso. Medo do casamento, medo de ter filho, medo de algo que exija dedicação integral (e que não permita pular fora e ficar livre, a qualquer momento). Contudo, a tatuagem estará presente na pele daqui a dez, vinte, trinta anos. Quando a pessoa disser "cansei", "já não significa mais nada", "foi bom enquanto durou", "naquela época eu gostava de fulano, do Senhor dos Anéis e da Penélope Charmosa, mas minha cabeça mudou", o que restará além da lamentação? Teremos uma legião de tatuados arrependidos? Teremos jovens que não farão tatuagens para se diferenciarem dos pais? Eles conseguirão remover os borrões com eficiência? Quem viver, verá.


Há um conselho antigo, que caiu no ostracismo: antecipe as consequências. Antes de agir, pense se a atitude de hoje valerá a pena daqui a um, dez ou cinquenta anos.

É autor do blog Correio Chegou.

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