terça-feira, 14 de abril de 2020

Pacientes terminais

Por Maurício Perez



O psiquiatra William Breitbart trabalha há anos com pacientes terminais de câncer, em Nova York. Para muitos deles, a grande questão não é saber quanto tempo ainda resta ou se sofrerão até morrer. Eles querem um sentido para suas vidas. Breitbart percebeu que a proximidade da morte leva algumas pessoas a concluírem que a vida não tem sentido. Mas, para outras, essa é uma excelente oportunidade para pensar e descobrir um sentido para suas existências.


Os pacientes que encontram o sentido, sempre apresentam três pontos em comum, todos absolutamente necessários:
- Eles percebem que suas vidas foram importantes para outras pessoas;
- Eles viveram guiados por um objetivo (como formar uma família ou servir a Deus);
- Eles entendem que foram coerentes.


Sentido e morte são duas faces da mesma moeda. Os problemas fundamentais da condição humana. Como o ser humano deve conduzir sua vida finita? Como encarar o fim? Com dignidade? E não com desespero? O que nos redime?


A experiência profissional de Breitbart começou em 1984, quando surgiram, em seu hospital, muitos homens jovens com Aids. "Eles me procuravam pedindo que os ajudasse a morrer. Eles me abordavam no corredor, dizendo que tinham apenas três meses de vida e não viam sentido em continuar a viver. Me pediam para matá-los".


Ele percebeu que os que pediam para morrer não eram os que tinham dor: eram os que tinham perdido o sentido da vida. Não era também uma questão de depressão. O problema era existencial.


Convidado a participar do projeto "Morte na América", Breitbart se uniu a filósofos, monges e médicos para conversar sobre a morte e o sentido da vida. "Subitamente descobri que nunca nos ensinaram a trabalhar com a busca de sentido na faculdade de medicina. E a busca pelo sentido, conversar sobre isso com o paciente terminal, é a melhor solução. É o remédio que eles mais agradecem". Breitbart percebeu que isso diminui significativamente os pensamentos suicídas - e fez com que muitos ficassem em paz, até o último momento.


O tempo entre o diagnóstico e a morte é uma chance de desenvolver o crescimento interior. Para alguns, é o momento onde encontram aquilo que procuravam obstinadamente, sem sucesso. Essas pessoas buscavam sentido no trabalho, no lazer, na agitação do dia-a-dia; em tantas coisas vazias ou de relativa importância. A iminência da morte foi a ocasião que os aproximou da verdade da vida. E nesse paradoxo, encontraram a felicidade no vestíbulo da morte.


Algumas vezes, parentes e médicos preferem esconder o diagnóstico do paciente. Terão seus motivos, circunstâncias especiais, mas chega um momento em que precisam falar disso. É o que os doentes mais agradecem. Falo por experiência. E é também uma oportunidade para que a própria família, amigos e médicos, pensem em suas vidas.


O silêncio, aqui, pode ser um sinal: talvez não tenhamos nada a dizer. Quem sabe, ainda arranhamos a vida superficialmente.

É autor do blog Correio Chegou.

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