terça-feira, 27 de agosto de 2019

Pegadinhas do conhecimento próprio

Por Maurício Perez



Se pedem para darmos uma nota para nós mesmos, daremos 9,5 porque nos consideramos pessoas muito humildes. Parece brincadeira, mas não é. Nos processos de seleção das empresas, ante a pergunta "Quais são os seus defeitos?", costumam sair as seguintes pérolas: sou perfeccionista; penso demais nos outros; exijo-me muito... Só os outros são egoístas, arrogantes, fracos, invejosos... O problema é que nós somos os outros.


Se não nos conhecemos, repetiremos erros atrás de erros. Além disso, os defeitos pioram com o passar do tempo, se não os conhecemos e os combatemos. Há idosos rabugentos, cheios de manias. Não eram assim quando eram jovens. Os defeitos nos afastam dos demais, e são a fonte dos fracassos dos nossos projetos, da nossa carreira profissional. Somos sempre vítimas dos nossos próprios defeitos. No primeiro romance de Machado de Assis, "A Ressurreição", encontramos um homem que tem um nítido defeito: não consegue confiar nos outros. Esse defeito destrói o seu noivado e o leva a terminar seus dias sozinho.


Não é fácil, nem simples, se conhecer. Vamos colocar aqui algumas pegadinhas.


Preguiça. Quem é muito ocupado e atarefado, pensa que está livre deste defeito. Esquece que toda preguiça é seletiva. No trabalho, sempre se dá um jeito de engavetar as tarefas mais chatas ou difíceis, ainda que necessárias. Suas queixas de cansaço, também são seletivas: cansado para trabalhar na cozinha, mas disposto para jogar futebol ou sair à noite para dançar.


Ira. Todo nervosinho pensa que é justo e que suas broncas são necessárias e adequadas. "Só assim tomam vergonha e aprendem". Isso raramente acontece. A maior parte das vezes, a pessoa se irrita porque o mundo e as pessoas não são como queria. E se, ainda por cima, mexem com a nossa imagem, aí é que ficamos alterados e soltamos todos os venenos.


Egoísmo. Quando uma mulher diz que quer ser mãe, porque "tem muito amor para dar", cuidado! Quase sempre isso significa que quer um bebê que a faça se sentir amada. Basta a criaturinha crescer um pouco e ignorá-la, para todo esse amor secar. O rapaz que está perdidamente apaixonado pela loirinha, está apenas gostando do prazer que a belezoca lhe proporciona com sua companhia, afeto ou... algo mais.


Inveja. É curioso ver como esse defeito sumiu da praça. Parece que desapareceu junto com a varíola. Na verdade, como a inveja é feia e desagradável, costuma se disfarçar atrás de supostas boas ações. Boa parte das críticas dirigidas às pessoas que fazem algo, trabalham, são premiadas e felizes, estão permeadas de inveja. Há algo mais insuportável do que ver um colega ser promovido, enquanto ficamos a ver navios? Certamente que foi uma injustiça e ele só conseguiu a promoção porque é puxa-saco. E não falemos do Facebook, onde só aparecem amigos viajando, curtindo à vida, satisfeitos e sorridentes, enquanto estamos limpando o banheiro de casa...


Humildade. Os tímidos e educados pensam que são humildes. Os pobres também. Esquecem de usar o termômetro da verdadeira humildade: a reação diante de uma humilhação. Notamos então que o tímido, o educado e o pobre são capazes de respostas bem altivas e agressivas. E ainda se justificam: "Não tenho sangue de barata, tenho muita personalidade".


Visto de fora, o ser humano é muito engraçado.

É autor do blog Correio Chegou.

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