terça-feira, 6 de março de 2018

Só os carros passam

Por Denise Fernandes




Amor que se desfaz, como pedra que vira areia, como metal que vira água, como sangue que vira corpo oco. Onde havia o amor ficou a terra seca, que espera a chuva. Barco sem leme, sem vela. O vento escorrendo em minhas mãos.

Amor inexistente. Passo na rua e não vejo nenhum casal se beijando, nenhum casal de mãos dadas. Nenhum abraço. Só os carros passam, as motos, uma bicicleta que quer mudar o mundo.

Amor plasma, desejo de amor. Amor som. Ligo o rádio e só toca músicas de amor. Amor utopia, mais cantado que vivido. Uma espécie de Deus presente em tudo, mas sem a fé.

Amor fora de moda, que quer saber (antes de se dar) se vai dar certo. Amor medroso, que não quer plantar. Amor pântano, armadilha, caranguejos, raízes que flutuam.

Pessoas-celulares passam cabisbaixas, tão tristes. Amor invisível, preso na rede, sem corpo. Amor que evaporou. Subiu para o céu e passa sobre minha cabeça, como imagens-nuvens, e grossas chuvas de verão.

O amor mudou, mudou-se  enquanto eu, distraída, arrumava a casa.

Nenhum comentário :

Postar um comentário