terça-feira, 10 de outubro de 2017

Amor, essa matéria

Por Denise Fernandes




Aos cinquenta anos, ela se assustou: é possível amar mais de uma pessoa? Disse que sim. Com certeza. Ela ficou perplexa. Disse que sempre pensou que amor de verdade era apenas por uma pessoa. Argumentei que era visível: muitas vezes, as pessoas amavam mais de uma pessoa. Mas de verdade?  ela refletia. Sim, acho que de verdade. Sempre que amei foi de verdade. Existe amor de mentira? Existe amor pouco, amor torto, pré-amor, amor de verão, amor de carnaval. Existe amor imenso. Existe amor infinito.

"Amor é uma matéria que a natureza tem tecido e a fantasia tem bordado". Encontrei essa sábia frase num dos bordados da maravilhosa exposição A Casa Bordada. Depois, estava sem fazer nada. E pra me distrair, abri uma velha enciclopédia que foi da minha mãe. Me deparei com os versos de Camões: "Amor um mal, que mata e não se vê;/ que dias há que na alma me tem posto/um não sei quê, que nasce não sei onde,/ vem não sei como, e dói não sei por quê".

A busca romântica é cheia de fantasias, de ideais a serem conquistados, de bordados.

Outra amiga me chega: acho que amo demais, faço parte das mulheres que amam demais. Digo a ela que isso é bobagem, frase de efeito para vender livros e palestras. Não existe amor demais. Todo amor pode ser até pouco (quando olhamos pros nossos abismos).

Depois veio o meu namorado reclamar: você não tem amor incondicional por mim! Não tenho... Tenho amor condicional, serve? É um amor bonito nas suas condições, preferências e exigências. É um amor sol dourado e potente mas, como um planeta, precisa dos seus gases e luas. Meu amor precisa de determinados valores. Sem eles, saio em galope pela noite, me transformo em busca incessante. Meu amor por você tem a delicadeza do pé de dama-da-noite, cheirando no jardim. Meu amor por você tem força e poesia.

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