sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Entardecer em Petrolina

Por Mayanna Velame




A viagem seria longa. Horas me separavam de Manaus, mas isso não causava receio ou impaciência. Viajar sempre é preciso...


Sobrevoando o céu do Nordeste, a aeronave aterrissou em Petrolina (para abastecer e embarcar novos passageiros). Sentada na poltrona, junto à janela, eu me sentia como mais uma viajante daquele voo, cujo destino resumia-se em levar e trazer vidas.


Após alguns minutos, a tripulação anunciou a decolagem. A meu lado, um jovem apertava o cinto e respirava fundo, na tentativa de afugentar o medo. Sem o menor indício de engatar uma conversa, concentrei-me nos movimentos do avião.


O arrebol fervilhava no horizonte: o céu, em tons dourados, lembravam resquícios de ouro; salpicados entre as nuvens. Lá embaixo, estava Petrolina  com suas casas, prédios e plantações. A ponte Presidente Dutra era semelhante a uma régua, traçando essa linha reta nas águas do rio São Francisco. Os carros transitavam de um lado para outro, seguindo seus destinos...


Como um gigante a observar o que há sobre seus pés, Petrolina rendia-se a mim, incrustada naquele lugar que pertencia somente a ela. No meu olhar, a cidade desenhava sua forma. E num inibido momento, pensei em seu sotaque, seu clima, seus costumes e nas pessoas que chegavam e partiam.


A efemeridade do instante fora capaz de ativar minhas saudações. A 36.000 pés, meus olhos já não alcançavam o local que me dera apreço. No infinito azul, as nuvens ruborizadas. Estrelas brilhantes piscavam como sinalizadores do espaço.


Ébria no balançar das frequentes turbulências, o tempo me trouxe de volta a Manaus. Até hoje me recordo daquele voo. O entardecer em Petrolina me tem como lembrança. Por alguns momentos, fomos cúmplices da solidão (que nos envolveu) e do amor. Objeto precioso na bagagem de quem precisa ir.

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