sexta-feira, 21 de julho de 2017

Céu de pipas

Por Mayanna Velame




Estacionei na última vaga restante. Era uma tarde ensolarada, típica de verão. O vento sacolejava os galhos das árvores. A dança da natureza. Julho dizia adeus. Seus poucos dias beliscavam o mês de agosto.


Dentro do carro permaneci, averiguando meus pertences (antes do desembarque). Enquanto isso, o para-brisa do automóvel se convertia numa tela, pronta a exibir um flagrante das coisas boas da vida: no campo de futebol de uma escola, algumas crianças aprendiam a empinar pipas. Testemunhar aquele momento foi notável. Sempre admirei a destreza de quem sabe manusear uma pipa. Era fascinante vê-la trêmula no céu, segura apenas por uma linha esticada.


Lembrei-me de Charlie Brown  e sua sina de emaranhar-se entre a rabiola. É preciso ter perícia para fazê-la voar. Na tarde que se lançava, as crianças não se intimidavam com o desafio proposto. Seguravam o carretel, prestando atenção na direção do vento e nas palavras do professor. Porque, naquela circunstância, só importava o fato de terem uma pipa nas mãos.


Quanto a mim, ressuscitei um pouco dos meus sonhos de menina. Eu também me sentia uma criança inocente; entregando-me ao ato heroico de fazer uma pipa invadir o espaço dos anjos.


Tive vontade de arregaçar as mangas, suspender as bainhas da calça e despir os pés. Correr solta. Sentir o calor da terra quente. Entretanto, não era viável realizar esse desejo. As obrigações do mundo real me chamavam. E a fantasia ficou reclusa em meus pensamentos.


Ao descer do carro, deparei-me com os gritos eufóricos das crianças. Sorrindo, caminhei rumo ao compromisso. No horizonte, nuvens despontavam tranquilas. O céu era um palco azul cintilado, que recebia o esquadrão de pipas coloridas (verdadeiras bailarinas ritmadas pelo afago do vento).

Nenhum comentário :

Postar um comentário