Por Denise Fernandes
Quando
não sei o que fazer, faço um bolo. Conclusão: muitos bolos já fiz. Outra
receita: bolo cuca, típico do sul do país. Duas xícaras de farinha de trigo,
uma xícara de açúcar, meia xícara de óleo, três quartos de xícara de leite,
dois ovos. Bata todos esses ingredientes até obter uma massa cremosa. Enquanto
bate a massa, pense em coisas boas. Coloque uma colher de chá de fermento em pó
químico. Despeje numa forma untada, de trinta centímetros por vinte e dois
centímetros ou equivalente.
Por
cima da massa você pode colocar banana fatiada ou maçã fatiada. Em cima da
fruta e da massa vai a farofa, que é o diferencial da receita: cinco colheres
de farinha de trigo, cinco colheres de açúcar, canela; coloque três ou quatro
colheres de manteiga e amasse com a mão até formar um farelo. Coloque esse
farelo em cima do bolo e coloque para assar. Um cheiro danado de bom vem desse
bolo assando. Fiquei de dar essa receita para a Valéria. Para que serve uma
receita nova, um ano novo, um novo Natal? Para eu engordar comendo panetone e
outros quitutes. E os sonhos novos? O que farei com eles?
Dentro
do tempo, presa no tempo, tento quase mandar nos meus pensamentos. Poemas,
ventos, lembranças que não sei se desejo. Passa o tempo e como passa, consigo
aprisionar alguns momentos. Presos nos meus cadernos, nas memórias
compartilhadas, no som de nossas risadas, nos fios de cabelo rolando pelo chão.
Não
temo o mal de Alzheimer, mas esquecer sem motivo. Não quero estar oca; ainda
que o meu amor seja mais meu que de todo mundo; mesmo esperando o infinito
diante do abismo; e tendo tentado praticar meditação no ônibus lotado.
Os
dias que eu entendo, não faço bolo, não faço nada de diferente. A minha gata
mia menos nesses dias, minha cachorra dorme mais.
Minha
cabeça quer pensar menos, mas nem sempre é possível. Minha cabeça quer sentir
menos e isso parece ainda mais impossível. Mas podemos olhar, olhar os desejos
como frutos dessas árvores que nos tornamos.
E meu carinho tão presente, continuará onde está,
sem tempo, chão onde pisamos, mais verdade que outras verdades.
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