quarta-feira, 27 de julho de 2011

Delicatessen, Afuca e Porre do Caralho

Por Fabio Ramos


DELICATESSEN

Lançaram
pelo vão da porta
um bilhete

não trazia
assinatura
e era escrito
com letras
recortadas de jornais

uma
frase
bem construída
saltava do papel

a mensagem
contida nas entrelinhas
iluminou minha escuridão


AFUCA

Quis complicar por prazer.
Diante da plateia anestesiada,
Desfilou seu vocabulário pedante.
Fala empolada, citações obscuras
E erudição de boutique.
O resultado? Bocejos generalizados.

No mundo mágico do crediário,
Vagabundo assassina o idioma
Para deleite dos ouvintes.
Ignora plurais, só diz barbaridades
E orgulha-se do analfabetismo funcional.
O veredicto? Aplausos efusivos.


PORRE DO CARALHO

passou a madrugada
sozinho
tomando todas no bar
da esquina

quando saiu,
julgava ter esquecido
o motivo
que o trouxe ali

apoiando-se
nas paredes
para não cair,
tentou xingar
mas cadê a voz?

mijou no monumento
pensando que fosse
um chafariz

amanheceu na sarjeta
vomitado
sem a carteira
e tendo um vira-lata
ao seu lado

adianta
ter as chaves de casa
no bolso
sem saber como chegar?


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