sexta-feira, 28 de junho de 2019

Devaneio literário

Por Mayanna Velame




Hoje acordei me sentindo como aqueles versos, da segunda geração romântica: com uma vontade de morrer (por amor). Mais que isso, é a sensação de escrever sobre a folha em branco. Aquilo que atormenta o descontentamento do existir.


Ou isto ou aquilo. E meu espírito se esvai na efemeridade da vida; tão prescrita nos poemas de Cecília Meireles. É verdade... Hoje estou gauche como Drummond, a saber que o mundo é vasto, mas o coração segue encolhido dentro do peito.


Se pudesse, eu daria um tempo e pediria a Manuel Bandeira uma passagem para Pasárgada. Nem que fosse por algumas horas, só para ser amiga do rei. Minha existência seria uma aventura a ser contemplada.


Aqui não sou feliz. Todavia, se algum dia, conversar com Emília sobre filosofia, no Sítio do Pica-Pau Amarelo, tudo teria valido a pena. Até mesmo essa melancolia que carrego.


Nesse ritmo que me encontro, não sei bem o que resta: ir para Platiplanto e cavalgar nos cavalinhos coloridos, mágicos e saltitantes? Combater os Capadócios, com força e audácia de criança?


Entre a rima e a prosa, a vida nos redige. Somos folhas em branco, grafadas, paulatinamente, pelos amores que nos escolhem e depois deixam saudades. Do travessão, tento construir uma ponte, que me guie em diálogos nunca ditos. Das minhas surpresas e emoções, espeto uma exclamação no peito  socorrido pelas interjeições.


Meu devaneio é sereno, mas também sabe ser rústico, como as reticências que insisto em escrever nos discursos. Se disfarço, em meu delírio, é porque todo poeta é um fingidor. E eu simulo mundos para criar heróis, personagens lunáticos, mocinhas e vilões inesquecíveis.


No final, somos todos livros. E vagos. Estamos prontos para sermos redigidos, com as últimas letras da Via-Láctea.

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