terça-feira, 30 de outubro de 2018

Férias

Por Denise Fernandes




Há muitos anos eu não tirava dez dias de férias. Faz tanto tempo, que nem consigo me lembrar da última vez que tive essa oportunidade. De repente, senti (de uma maneira forte e sincera) dentro de mim: ou tiro férias agora, ou terei um "treco".

Precisava de dez dias sem compromisso algum. Não olhar para o umbigo, mas para o meu corpo inteiro  abandonado num mar de imposições de horas e papéis. Precisava realmente me sentir livre e encarar minha liberdade de frente.

Foi tirando férias que descobri uma nova calma em mim. Uma calma que é amor ao mar, ao vento, ao tempo. Os dias de férias foram como a água morna e cristalina do mar de João Pessoa. Lavei minha alma no mar.

Precisava de um novo tempo para mim. Era necessário parar de correr. Agora, percebo que corri por uns trinta anos: precisava pagar as contas, adquirir uma formação intelectual, criar os filhos, cuidar da casa e da vida espiritual. Ora uma cruz, ora um sentimento de grande responsabilidade.

Junto com aquela voz interior (dizendo "tenho que", "tenho que", "tenho que"), havia uma percepção que se acentuou com o decorrer dos anos... Sentia que nunca ia terminar minha grande tarefa. A morte e a vida não são páginas em branco. A única folha em branco que tenho sou eu mesma: meu mistério, meu passo no escuro, minhas férias.

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