terça-feira, 23 de outubro de 2018

É possível mudar um país sem arrependimento?

Por Maurício Perez



Arrepender-se é algo muito profundo. Diante da consciência (que o julga), o ser humano tem a sinceridade de reconhecer que agiu errado. Não importa qual seja a ação: uma pequena mentira ou um grande crime. Uma ação má atenta contra o semelhante, a sociedade e a Deus. Violar a ordem moral não é mero simbolismo. Mais cedo ou mais tarde, tudo e todos se ressentirão. E pagarão caro.


Aos poucos, a operação Lava Jato vai assentando a poeira. Entre os muitos implicados criminalmente, há notícia de alguém que se arrependeu? Não me refiro ao fato de reconhecer que não valeu a pena por que foi pego ou está preso. Fazer delação não é remorso. Não encontro registros de um único caso de arrependimento sincero, vital, profundo.


Passemos os olhos pelo tráfico de drogas, com tudo o que leva consigo: assaltos, homicídios, roubo de carga, etc. Um sistema que envolve autoridades, fiscais, políticos, policiais, juízes, usuários, etc. Alguém se arrependeu?


E como vamos ter arrependimento se moral é palavrão e moralista é um radical retrógrado? Até para se arrepender e mudar de comportamento, temos que ser chiques? Ser chique dizendo-se arrependido, mas recebendo aplausos, retendo o dinheiro, o poder e o prestígio?


Invoco um dos maiores poetas do século XX para dizer o óbvio. Segundo T. S. Eliot, "os problemas políticos, no fundo, são problemas religiosos e morais". Tenho que expor uma verdade, sem ser chique, para evitar o rótulo de fundamentalista caipira subdesenvolvido?


"Uma sociedade em que os homens e as mulheres são go­vernados pela crença em uma ordem moral duradoura, por um forte senso de certo e errado, por convicções pessoais de justiça e de honra, será uma sociedade boa  seja qual for o mecanismo político utiliza­do; enquanto, na sociedade, homens e mulheres estiverem moralmen­te à deriva, ignorantes das normas e voltados principalmente para a gratificação dos apetites, essa será uma sociedade ruim – não importa quantas pessoas votem, ou quão liberal seja a ordem constitucional formal" (cf. Russel Kirk, A Política da Prudência).


No melhor filme de Woody Allen, "Crimes e Pecados", um médico manda matar sua amante porque ela ameaçava fazer um escândalo. O crime nunca é descoberto. O tempo passa e ele vai levando a vida. Só que, volta e meia, a consciência acusa. Como bom judeu, o médico lembra do conselho que seu pai, rabino, sempre lhe repetia: "Meu filho, Deus vê tudo".

É autor do blog Correio Chegou.

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