terça-feira, 9 de outubro de 2018

Banheiros

Por Denise Fernandes




Foi graças a uma incontinência urinária que minha reflexão sobre banheiros se ampliou. Antes era possível selecionar banheiros, e até esperar chegar em casa para usar o meu. Mas esse modo de espera se foi, e comecei a ter que usar o primeiro banheiro disponível.

Banheiros são lugares de pura reflexão e solidão, que nos vinculam às nossas raízes. Na minha infância, para fugir das dificuldades na escola, me refugiava no banheiro. Ficava sentada ali, sem fazer nada. Esperava passar o recreio, protegida na privada.

Outro dia recorri ao banheiro de uma padaria. Ao chegar, o mesmo estava ocupado. Na porta do banheiro feminino, uma senhora me disse que não era possível utilizá-lo, pois quem havia entrado era um homem. Voltei com a informação, e me certifiquei: o banheiro feminino estava ocupado e o masculino, livre, fedia e nos causava náuseas. A senhora se revoltou. "Isso não pode! Não está certo entrar homem no banheiro de mulher!". Quando o coitado saiu, a exaltada senhora começou a protestar alto. Ele, vexado, olhava para baixo  e rapidamente se afastou. Confesso que entendi sua escolha. Quem gosta de um banheiro imundo?

Em minhas jornadas, descobri que os melhores banheiros estão nos museus da cidade. Tudo limpinho. Depois você dá uma volta e bebe um pouco de arte.

Banheiros são espelhos (mesmo não tendo um dentro). Na solidão do banheiro, descobrimos como estamos. São momentos de reflexão verdadeira. Mais conscientes do equilíbrio de nossas vidas, o olhar volta-se ao íntimo.

Quem não tem banheiro, deve sonhar ardentemente com isso. Todo cidadão merece um banheiro com papel higiênico (mesmo que seja compartilhado). Somos feitos de espaços.

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