Por Daniella Caruso Gandra
Apresento Drummond, primeiramente, em A verdade dividida:
A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Agora, eis que me meto:
O tempo feito raio atravessa o meu espaço
longe demais para um abraço.
Ausenta-se de mim em pelo debutante
e com a pele fria neutraliza minha libidinosa pupila.
Tenta me despovoar, tufando-se de desculpas,
enquanto me escacho indecorosamente, uma, duas...
Insinua sobre a carcaça que parece carregar um milharal
onde tudo soa igual e isso me agride descompassivamente.
E assim, tensiona taticamente o pouco faro do meu forte tato.
Nenhum comentário :
Postar um comentário