Por Oswaldo Antônio Begiato
De onde partiu o golpe que partiu meu coração
partiu também a flecha reta que me faz compor por linhas curvas.
Cansei-me de vaguear por águas turvas.
Dentro de ti aprendi, deusa da fertilidade,
a navegar e a fundear nas bacias floridas de tua alma casta e me fizeste estreme.
Com asas coloridas, por entre tuas flores, aprendi a voar e a fecundar;
a fecundar e a voar, em nome do vento e da multiplicação.
Foi dentro de ti, celeiro de virtudes robustas,
que encontrei, de olhos fechados, a retidão.
E não queiram agora
me apartar de minhas convicções.
Elas me acompanham desde os tempos de borboleta razoável.
(O fim dos princípios é o princípio do fim;
abismo de onde só volta quem tiver asas arco-irisadas).
Quero, pois, viver a beleza imortal do presente, afortunado que sou,
e desatar-me de um passado duramente gravado no anel de compromisso
como obra de arte - natureza morta emoldurada de saudades -
cuja utilidade única é a de ficar exposta no museu do inalterável.
Queria tanto te deixar um presente
em forma de poesia fecunda.
Não a poesia ordinária que ando fazendo,
feita de palavras, de métricas, de rimas, de regras tantas...
Mas uma poesia feita de gestos,
onde o olhar se adentra pela alma afora
perfura as blindagens e desperta o inusitado.
(A expressão de um olhar apaixonado
é mais bela e profunda do que qualquer poesia escrita).
Essa é a poesia que quero te deixar.
O meu olhar belo e profundo,
capaz de conferir asas coloridas
a quem quiser escapulir de abismos.
Mas como ando cego e acanhado
não serei capaz de compor a poesia de meu amor.