terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Bom humor

Por Maurício Perez



Nada tão importante (e sério) como o bom humor. E como faz falta neste nosso mundo. E como precisamos ter, ao nosso lado, pessoas com bom humor.


Bom humor não tem nada a ver com ser palhaço ou soltar gargalhadas. Muito menos com o otimismo superficial, do tipo "Vai dar tudo certo!". Ouvir isso, em certos momentos, é bastante deprimente. É preciso ser profundo e ultrapassar a camada intermediária dos acontecimentos, para se ter bom humor.


Em certa ocasião, Nelson Motta conversava com Tim Maia e soltou esta:
 Milha filha adotou um gato e batizou-o com teu nome.
A resposta veio fulminante:
 Já sei... Deve ser um gato preto, gordo e cafajeste!


Rir de si mesmo é sinal de saúde espiritual, e facilita muito a convivência. Podemos imaginar o comentário de uma jovem estudante de ciências sociais, dizendo que o Tim Maia foi gordofóbico e racista. Mimimi. Preciosismo. Politicamente correto. Não é só chatice. Essa criatura leva-se muito a sério.


Como não apreciar o humor inglês, sutil e inteligente?


O cavalheiro dirige-se ao mordomo:
 Meu caro Mr. Bronson, gostaria de ter uma conversa com você. De homem para homem.
 Senhor  responde o mordomo , receio que, de outra forma, será no mínimo constrangedor!


A beleza deste tipo de humor é que não precisa recorrer a palavrões e genitálias. Quase todo o humor atual (nos filmes e nas redes sociais) enveredou por aí. Adultos rindo como meninos adolescentes.


Bom humor é mais importante que oxigênio nas horas difíceis, quando o ar fica carregado. Quando a discussão familiar vai tomando ares de brigas e ofensas. Um comentário feliz e a tempestade se desfaz. Tira-se o peso do que não deve ter peso.


A família tinha uma boa condição financeira. Carro bacana, viagem anual para a Europa. Chegou a crise e teve que mudar de bairro, vender o carro e comer quentinha. Isso pode ser visto como o fracasso total. A vergonha diante dos amigos e amigas. Há, inclusive, quem mata a família e se mate depois por causa disso. Mas há quem diga que agora mora em Big Field (Campo Grande), anda de Mercedes (ônibus) e gosta de frequentar o restaurante Chez Moi (Minha Casa).


O brasileiro deu mostras disso em 2014, na Copa do Mundo: as pessoas exigiam hospitais e escolas com padrão Fifa, havia black blocs nas ruas etc. E tomamos o 7 a 1 da Alemanha. Poderia ter sido a fagulha de um grande incêndio, de muita violência; mas as brincadeiras, nos memes e nos bares, evitaram uma tragédia. Nosso povo também tem qualidades invejáveis.

É autor do blog Correio Chegou.

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