terça-feira, 31 de julho de 2012

Na Estrada (Crítica)

Por Denise Fernandes



         Estava tão animada em ir ao cinema que não tinha pensado na possibilidade de não gostar do "Na Estrada". E acho que não gostei, mesmo querendo ter gostado.

         Bem antes do fim da exibição, já tinha olhado duas vezes para o relógio. Na primeira vez parecia que havia passado um tempo enorme e a película nem na metade estava. Aí me controlei para não ficar olhando a hora no celular toda hora. As brigas de casal e muitas cenas do filme me pareceram meio de novela. As cenas de viagens foram mal aproveitadas. Imaginava eu imagens maravilhosas. Vi repetidas cenas de pôr do sol e paisagens pouco criativas. Gostei da cena do sexo a três no carro, com o caminhoneiro perdendo a direção ao testemunhar, e também das cenas com música ao vivo. O resto do filme deveria ser todo refeito. Acho que o Walter Salles teria que estudar cinema com Fellini e Hitchcock, entender que cinema é cinema e refazer o filme. Sendo menos óbvio, mais bonito, mais poético. Já me contaram que a crítica gostou do filme, que em Cannes aplaudiram de pé, mas já pensei e repensei. Não estou menstruada nem de TPM e o filme não cresce no meu conceito. Era tão fã do Walter Salles e deixei de ser.

         Também fiquei com medo dos meus sentimentos pelo Milton Nascimento, de quem sempre me senti tão fã, ao vê-lo num comercial na TV. E fiquei me perguntando: será que ele precisa da grana desse comercial? Será que acredita na venda que acaba propondo? Não dá para viver de música? O Milton não é ecologicamente correto? O que será que ele fez com o dinheiro do comercial? Sei que não é da minha conta, mas num mundo em que se critica tudo e que sou peixe pequeno, me permitam escrever o desespero de ir deixando de ser fã, de ter tão pouco e ter tanto ao mesmo tempo, de sentir esse vazio de querer ver um bom filme, me sentindo meio vítima de uma política cultural terrível. Muitas vezes, me sinto submetida ao lixo cultural vendo tevê ou ouvindo música.

         Não posso dizer que estou ficando chata porque acho que sempre fui. Quem sabe, na próxima encarnação, Deus dá uma suavizada. Não sei se quero ficar lavando louças na próxima encarnação... Vou tentar negociar isso com Deus também, entre outras coisinhas.

         Mas gostaria de, na próxima vida, continuar a ver bons filmes, ser fã de artistas, comer doces gostosos. Acho que gostaria de ter outra vida também. Estou pronta para repetir a dose: infância, adolescência, a mesma estrada, a mesma esperança.

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