Por Denise Fernandes
Estava
tão animada em ir ao cinema que não tinha pensado na possibilidade de não
gostar do "Na Estrada". E acho que não gostei, mesmo querendo ter
gostado.
Bem
antes do fim da exibição, já tinha olhado duas vezes para o relógio. Na
primeira vez parecia que havia passado um tempo enorme e a película nem na
metade estava. Aí me controlei para não ficar olhando a hora no celular toda
hora. As brigas de casal e muitas cenas do filme me pareceram meio de novela. As
cenas de viagens foram mal aproveitadas. Imaginava eu imagens maravilhosas. Vi
repetidas cenas de pôr do sol e paisagens pouco criativas. Gostei da cena do
sexo a três no carro, com o caminhoneiro perdendo a direção ao testemunhar, e também
das cenas com música ao vivo. O resto do filme deveria ser todo refeito. Acho
que o Walter Salles teria que estudar cinema com Fellini e Hitchcock, entender
que cinema é cinema e refazer o filme. Sendo menos óbvio, mais bonito, mais
poético. Já me contaram que a crítica gostou do filme, que em Cannes aplaudiram
de pé, mas já pensei e repensei. Não estou menstruada nem de TPM e o filme não
cresce no meu conceito. Era tão fã do Walter Salles e deixei de ser.
Também
fiquei com medo dos meus sentimentos pelo Milton Nascimento, de quem sempre me
senti tão fã, ao vê-lo num comercial na TV. E fiquei me perguntando: será que
ele precisa da grana desse comercial? Será que acredita na venda que acaba
propondo? Não dá para viver de música? O Milton não é ecologicamente correto? O
que será que ele fez com o dinheiro do comercial? Sei que não é da minha conta,
mas num mundo em que se critica tudo e que sou peixe pequeno, me permitam
escrever o desespero de ir deixando de ser fã, de ter tão pouco e ter tanto ao
mesmo tempo, de sentir esse vazio de querer ver um bom filme, me sentindo meio
vítima de uma política cultural terrível. Muitas vezes, me sinto submetida ao
lixo cultural vendo tevê ou ouvindo música.
Não
posso dizer que estou ficando chata porque acho que sempre fui. Quem sabe, na
próxima encarnação, Deus dá uma suavizada. Não sei se quero ficar lavando
louças na próxima encarnação... Vou tentar negociar isso com Deus também, entre
outras coisinhas.
Mas
gostaria de, na próxima vida, continuar a ver bons filmes, ser fã de artistas,
comer doces gostosos. Acho que gostaria de ter outra vida também. Estou pronta
para repetir a dose: infância, adolescência, a mesma estrada, a mesma esperança.
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