sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Onde?

Por Mayanna Velame




Onde está a poesia?  pergunto-me, no silêncio da sala de poucos móveis. Sobre uma mesa, papéis, canetas e rascunhos que jamais serão lidos. Onde está a poesia? Talvez esteja no coração incandescente do poeta.


A poesia está com você. No encontro ocasional (em uma esquina qualquer), na chuva que brota do céu, no café da manhã. A verdade é que a poesia não se esconde: ela reside no olhar confuso e tímido dos amores platônicos, nas declarações nunca ditas, no pensamento secreto de cada um. Na marca de batom impregnada na borda do copo, nas cinzas depositadas em cinzeiros decorativos.


Encontro poesia no cerrar dos olhos; para ouvir o cântico das ondas. Na cara de sono, na gentileza ainda viva em corações bondosos. A poesia me acha quando a escrevo em teus lábios.


Poesia é beijar focinho de gato, comer chocolate, apertar travesseiro em noites de frio. Se eu fosse poeta, escreveria todo dia para pincelar o poema da minha vida em linhas retas, com uma letra tortuosa. Afinal, se o anjo torto apareceu a Drummond, é porque a poesia é um labirinto em que todos deveriam se perder; sem aquela avidez para terminar a leitura.


Onde estou? Aonde vou? A poesia responde, em versos traduzidos pela razão (de quem se dispõe a conhecê-los). Poesia é um achado.


A poesia mora aqui, ali, lá, acolá. Nos advérbios, nos verbos, nos substantivos, na linguagem. Na escrita que nos compreende e nos torna, de alguma forma, um pouco mais humanos.

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