sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Âncoras

Por Mayanna Velame




Ancorei as palavras desta crônica em alguns arrecifes do imenso e infinito mar. E qualquer parágrafo que aqui fora redigido, tornou-se pouco para o vasto sentimento residente em mim.


Da maresia que me acordava nas noites sublimes, não me espantei em ouvir seu sussurro. Há tempos, estive sem esse alívio na alma. O mar é sempre soberano, como o amor. E na viagem que me levou à Boa Viagem, pude ter a verdadeira constatação: quem vive perto do mar é mais feliz.


Em meus caminhos, a calçada esbranquiçada pela areia. Ao olhar para o Sul, o horizonte se desenhava como uma linha inerte, divisora entre os anjos e os peixes. Da efemeridade iminente, tornamo-nos seres hipnotizados. As ondas, salivas salgadas, umedeciam meu instante e todos os pensamentos que cruzavam os oceanos e os continentes.


Os coqueiros lembravam engenhosos bailarinos, enquanto Deus (com suas mãos invisíveis) manuseava o destino dos homens, no xeque-mate da vida.


Nós permanecemos à beira mar, agraciando a Lua  que mais parecia uma roda cintilante, brincando de esconde-esconde com os farrapos de nuvens. Se eu pudesse findar as horas naquele momento, contaria a todos que o mundo é bom e mágico quando está nas mãos de inocentes. E que nada pode ser tão imperioso quanto os sonhos que aninhamos em nosso coração.


Se tu soubesses o quão colossal é o amor, alcançaríamos os tesouros perdidos nas ilhas, conquistaríamos o além-mar e derrotaríamos os mais tenebrosos monstros marinhos existentes.


Mas quis o mar ser emblemático e melancólico. Herói profético que abraça a terra e seus habitantes. Desfazemos as âncoras que nos acorrentam. Como navios, singramos para o Norte. Perco meu juízo de vista. Apenas uma luz minúscula cintila, contrapondo a escuridão marítima. Deve ser um farol a guiar os aspirantes: marujos, feito eu e você.

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